Carta para Natália Correia
Natália,
Não tenho nada de ti.
Não sou nem magnética nem esplendorosa
E n unca fui dona de território algum.
Pelo contrário
Sempre fui parte do que não era parte
Mesmo quando, por direito, o show me deveria pertencer.
Ainda que meu, foi-me exterior e estrangeiro
Tão estrangeiro quanto tu plácida figura
Aí sentada, escondedo-te o fogo.
Sábia figura a tua, Natália.
Nada como eu.
O fogo se me escorre para fora de olhos desvairados
Em mechas ruivas que se me caem pela cara
(E onde, dize-me, puseram todos os pentes?)
Pelos meus gestos descontínuos
Quando me esqueço para que os fiz
Então não há mais para que fazê-los
E param-se no ar.
O fogo que escondes, Natália
E que por isto recebeste aceitação
-das mulheres, porque não lhes foste ameaça
- dos homens, porque não lhes foste desafio-
Em mim queima mesmo em praça pública
E queimam-me nas fogueiras do preconceito
Por medo da ameaça - do desafio.
Ah, invejada Natália!
AS minhas letras nada deixam a desejar das tuas
Mas eu, Natália? Eu não pertenço aqui, como pertenceste.
Minhas letras brilham sozinhas
Enquanto sou apedrejada em todas as esquinas
Onde recebeste palmas
Queimada em todas as fogueiras
Onde te acalentaram as mãos
Maltida em todas as mesas de bares
E de respeitáveis salas de jantar
Onde, unanimanete, foste acolhida.
Ah, cala-te, Natália!
Assim tão amada
Tuas letras são mentiras que dóem.
E nem tive, como tu
O direito de me esconder en abençoado amor
Post-mortem...
No comments:
Post a Comment