Saturday, August 31, 2019

Hands in Poems: Fernando Pessoa (III)



Mestre, são plácidas 
Todas as horas
Que nós perdemos.
Se non perdê-las,
Qual numa jarra,
Nós pomos flores.

Não há tristezas
Nem alegrias
Na nossa vida.
Assim saibamos,
Sábios incautos,
Não a viver, 
Mas decorrê-la,
Tranquilos, plácidos,
Tendo as crianças 
Por nossas mestras,
E os olhos cheios
De Natureza...

À beira-rio
À beira-estrrada,
Conforme calha,
Sempre no mesmo 
Leve descanso 
De estar vivendo.

O tempo passa,
Não nos diz nada.
Envelhecemos.
Saibamos, quase
Maliciosos,
Sentir-nos ir.

Não vale a pena
Fazer um gesto.
Não se resiste
Ao deus atroz
Que os próprios filhos
Devora sempre.
Colhamos flores.
Molhemos leves
As nossas mãos
Nos rios calmos,
Para aprendermos
Calma também.

Girassóis sempre
Fitando o Sol,
Da vida iremos
Tranquilos, tendo
Nem o remorso 
De ter vivido.

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