Um beijo dentro do casulo escuro do sono,
um beijo para que o murmures,
uma taça de luz em teus sonhos, uma
espátula onde vivam todas as cores,
eu dou-te, meu amor, para que me sossegue
com a tua alma.
Quero, também, as carícias leves das tuas
mãos adormecidas sobre
o meu rosto, aquela unha frágil que me risca a pele em seu
tecido, o cheiro
doce e intenso e maresíaco do teu corpo,
os peixes que te rondam a saliva e
as formigas, meu doce, que são os
arrepios.
Um beijo que soe ao silêncio do nosso
quarto, aos pequenos
Barulhos do bar lá em baixo, ao esvoaçar
das cortinas corridas nas janelas,
da brisa tão fina sobre o espelho que nos
reflecte, um beijo, amor, que
chegue fundo ao calor e o mexa e o
polvilhe de mim até que em ti o desejo
se desperte.
In Bom dia, Dia! (2014)
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