Wednesday, April 18, 2018

Words in Books: Caviar é uma ova

Sabes cando alguén cuxo criterio tes en alta estima vén e che recomenda un libro? A maioría das veces, vas de cabeza e mércalo. Outras veces a cordura recórdache que tes espazo limitado nos andeis e vontade de espartanismo, e pensas: "Bué, vou esperar, igual máis para adiante". Pero vén outro, cuxo criterio estimas tanto ou máis e diche: "Mira que está moi ben, é deses para conservar".... Mmm... comezas a pensalo dúas veces e iníciase o esvarón polo tobogán con destino ao "Paga a pena. Ben o merezo". E cando xa finalmente un libreiro che di que te vas botar unhas boas risas, é the last nudge e dis: "Veña, trae para aquí que este vén de volta comigo na maleta".

Así foi con Caviar é uma ova (2015). Caeu porque tiña que caer, ao estilo inevitable e fatídico das tapas do bar que ves de esguello ao pasar e che fan desandar o camiño.


Non é unha tapa calquera, porque se trata dunha escolma das crónicas máis interesantes de  Gregório Duvivierconsiderado un dos autores máis inventivos do Brasil na actualidade. Un libro tan polifacético como o home que o escribe: ator, roteirista, comediante, cronista e poeta.

Exótico coma un sushi bar, pola barra móbil desfilan ficcións, recordos de infancia, snippets de opinión, poemas, brincadeiras, exercicios de estilo tan breves tan breves que case son flash fiction.

Duvivier, o noso Itamae-san, vai sacando pratos á súa veleidade, despistando os nosos padais con flashbacks, condicionais, cartas, soños, mundos virtuais e reais de desigualdade, sexismo e brutalidade política.

Acelérase o ritmo da cinta transportadora, e cando xa tes os palillos dispostos a apresar un nigiri,  sóltache unha gulifada e recórdache que a intelixencia non é coma a salsa de soia, para mollar de cando en vez; senón coma o arroz: ingrediente indispensable.

"Quando passava, as pessoas se sentiam melhor. Passava tão sen intenção, tão sem objetivo, tão somente por passar, que parecia que estava tudo em ordem" (p.16) 

"Deve ter havido algum engano. Nosso filho não pode ter sido reprovado. Aposto que foi nessas matérias que ninguém se importa. Matemática, por exemplo, é  uma coisa muito subjetiva. Vocês estão dizendo que x não é igual a y. Se ele tá dizendo que é, aposto que é. Ou então, que ainda vai ser. Matemática é uma coisa que muda o tempo todo" (p.35) 

"Sou muito criterioso em relação á altura das pessoas com quem eu ando. Na amizade platônica, a pessoa tem a altura que você quiser. Você só tem os benefícios da amizade, sem aquela obrigação de ir no chá de panela ou liberar no Candy Crush" (p.37) 

"O primeiro comentário sobre uma mulher é sempre esse: feia. Bonita. Gorda. Gostosa. Comeria. Não comeria. Só que ela não perguntou, em momento nenhum, se alguém queria comê-la" (p.55) 

"Hoje estou morando em um lugar agradabilíssimo, mas que insiste em me privar de caneta e papel, assim como das minhas mãos, que no momento estão presas em uma linda camisa branca de mangas longas (demais). Por isso te mando essa mensagem telepática, a que peço que responda telepaticamente, pois de outro modo talvez não chegue até mim. Sempre sua, Carmen" (p.66) 
NUANCES

(...)
"Depressão: tristeza de rico. Desespero: tristeza de pobre.

Eu te amo: quando se ama. Eu também: quando non se quer cometer uma grosseria.
Euforia: alegria barulhenta. Felicidade: alegria silenciosa
Guardar: na gaveta. Salvar: no computador. Salvaguardar: no Exército.
Língua: dialeto de rico. Dialeto: língua de pobre.
Vocabulário: léxico de quem não tem muito léxico. Léxico: vocabulário de quem tem muito vocabulário" (pp.79, 80)

NEOLOGISMOS
(...)
"BIODESAGRADÁVEL: biodegradável porém malcheiroso.
DESMAGRECER: reengordar após ter emagrecido.
DIA FÚTIL: dia útil usado de forma inútil.
EX-QUECIMENTO: quando você pensou que tinha esquecido mas na verdade lembra que não esqueceu" (p.185) 
"A morte dos outros é um spoiler. Parece te revelar algo que você não sabia, ou fingia não saber sobre você mesmo: você vai morrer. Olhe à sua volta. Todo o mundo vai morrer. A vida é pior que Game of Thrones. Não sobra nem o anão" (p.113) 
"Palavras, percebemos, são pessoas. Algumas são sozinhas: Abracadabra. Eureca. Bingo. Outras são promíscuas (embora prefiram a palavra "gregária"): estão sempre cercado de muitas outras: Que. De. Por. 
Algumas palavras são casadas (...) Esse é o problema do casamento entre as palavras, que por acaso é o mesmo do casamento entre pessoas. Tem sempre uma palavra que ama mais (...)
Tal vez pra isso sirva a poesia, pra desfazer ledos enganos en prol de encontros mais frondosos" (pp.171, 172)

Grazas, amable libreiro da Bertrand (esquecín o nome!), e grazas Nacho Rodiño, por recomendarme o libro e por compartirme este vídeo "O Meio de Todas as Coisas". A tristeza como vontade de algo que aínda non inventaron. Difícil superar a definición.



Para saber máis:
  • Perfil en Twitter de Gregório Duvivier
  • Entrevista a Gregório Duvivier onde fala da sua paixão pela literatura
  • Entrevista en Livraria Cultura

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