Monday, August 6, 2018

The Heart in Books: Último volume

Posiblemente entre as batallas máis duras que teño presenciado están as que se libran para determinar quen se leva o corrosco do pan. A xente pelexa por ser o primeiro en arrancalo e rillar nel con ansia ante a mirada envexosa dos perdedores. Moitos, para evitar o conflito, non esperan a chegar á casa e xa o comen polo camiño. Igual algún día os panadeiros se darán conta do filón que hai aí e venderán saquiños de corroscos. Como a historia dos buracos dos Filipinos. Ou non. Eu que sei, igual é o de sempre, o principio da escaseza, e o corrosco gústanos precisamente porque só hai un por peza e se tivésemos un saco deles non nos faría tanto chiste. 

Quizais non tivese chegado a Miguel Esteves Cardoso, crítico, escritor e xornalista portugués, máis coñecido no seu país como MEC, se non fose pola recomendación e préstamo de Nacho Rodiño (grazas, Nacho!).

Que queredes que vos diga, a min xa me gañou desde a propia selección dos títulos: O amor é fodido (1994), Como é Linda a Puta da Vida (2015) ou Último volume (1991). Este último (non vai con retintín) é o que veño de ler, unha pura brincadeira desde o  mesmo prefacio.



É deses contados libros que che fan rir en voz alta -non, non só sorrir, que tamén me vale-. Gústame o libro e gústame a actitude do MEC cara á escrita. Defende que se escribe  “quando se corresponde ao que se quer e se imagina, quer se queira quer não”, que as crónicas “mais bonitas e mais duradouras são as intemporais que falam de amor e de saudade” e que a brevidade é esencial porque "Nunca houve uma instância em que cortar não melhorasse o texto.” Cáesme ben, tipiño.

Último volume é un saco de corroscos, señoras (e señores). Unha colectánea de 40 textos, historias curtas, reflexións frescas, provocadoras, crocantes e cunha pouquiña miga de lirismo para non destrozarche o ceo da boca. 

Se facedes unha procura en Google veredes a cantidade de seareiros e seareiras que hai dos corroscos literarios, xente que garda aforismos e citas deste libro. Non me estraña, porque os hai para enmarcar. Extractos sobre a vida e a morte, a sociedade, a felicidade, o amor, as relacións entre pais e fillos, a fe, Deus,... temas que dan, cada un, para un molete enteiro. Pero... ao fin e ao cabo: quen quere 40 moletes podendo ter 40 corroscos?
"A morte é um nojo. Morrer é uma autêntica vergonha. Que sentido é que faz? A vida pode não ser bonita, mas a morte é um horror. Qual paz, qual sopa de alho porro! Qual "não teñhas medo, estás nas mãos de Deus!" Diante da morte, o medo é a única reacção sensata que se pode ter. A morte é um atraso de vida" (p.23)
"Não se pode instalar um mecanismo explosivo no meu coração, que me faça ir pelos ares no momento em que meu coração deixar de bater? Instalá-lo-ia já amanhã" (p.24)
 "Estar bem disposto é como andar bem arranjado. É como estar todo roto por dentro mas andar sempre bem lavado e bem vestido. Estar bem disposto não tem nada a ver con estar bem. É estar à disposição das pessoas com que se está (...) Estar bem disposto é uma mistura de sentido de proporção, sentido de humor, capacidade de disfarce, e vontade de agradar" (p.31)
"Mesquinho é o caso de amor que pode ser amavelmente resolvido com proveito para ambas as partes. Quando homem e mulher ficam amigos é porque nunca foram outra coisa. O amor verdadeiro é um desespero constante. Os problemas mais espectaculares só se resolvem com mortes. Não ha conselhos que lhes valham" (p.41)
"Para termos uma noção do pouco que valemos, basta con subtrair ao que somos o que aprendemos, o que lemos, o que vivemos com os outros. É só ver o que fica. Coisa pouca. Sozinho quase ninguém é quase nada. É somente juntos que podemos ser alguma coisa" (p.67)
"O problema da vida não é a vida. É o tempo. É o resto. O problema da vida é o que fica da felicidade. O que fica da vida pode ser alegre. O que fica da felicidade é sempre triste" (p.74)
"Num momento, num olhar, o coração apanha-se para sempre. Ama-se alguém. Por muito longe, por muito difícil, por muito desesperadamente. O coração guarda o que se nos escapa das mãos. E durante o dia e durante a vida, quando não está lá quem se ama, não é ela que nos acompanha - é o nosso amor, o amor que se lhe tem" (p.77) 
"Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança en lembrança, na esperança de ele se cansar" (p.80) 
"Nós, os Ai-Ais - os Adultos Infantis Atrasados Irremediavelmente- deveríamos organizarmo-nos. Poderíamos mandar imprimir emblemas simpáticos, para usar à lapela, a dizer "Hello! I'm an AI AI!" Este emblema de Ai-Ai também serviria de aviso à navegação" (p.95)

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